não esquecer
comecei a escrever este texto com a palavra “sonhei” e, na verdade, parece algo do campo dos sonhos mesmo.
o fato é que, outro dia, meu irmão me enviou uma caixa com alguns objetos pequenos dos meus pais que ainda restavam. não me lembro de ele ter dito que enviaria naquela semana e nem do que enviaria. a caixa grande chegou de surpresa, e quando a abri, dentro dela, vi vislumbres da beleza dos objetos que eu aguardava saudosa, tentando reconhecer a vivacidade na presença deles em mim e na memória. junto, vieram outras coisas que não sei exatamente por que ele enviou, mas acredito que tenha sido uma forma de deixar a decisão para mim de manter, ou não, o que eu desejasse.
um dos objetos não esperados era uma câmera analógica de minha mãe. Impecável, como era de se esperar de tudo que vinha de minha mãe, com um filme dentro, e o marcador de fotos batidas mostrava o número 31. a imaginação me levou a diversas aberturas da memória e às histórias que vivi junto dos meus pais e daquela câmera. talvez eu tenha inventado aquelas lembranças, mas foi bonito imaginar.
no mesmo dia, levei a câmera ao laboratório de fotos para assegurar que o filme sairia, pelo menos, inteiro. um lado meu sabia que nada poderia sair, afinal, essa é uma das bonitezas do filme analógico.
muito ou nada.
e veio o muito. todas as 31 fotos saíram, com a data de 2008. era uma viagem dos meus pais para o MS, mais uma de pescaria. nas fotos, minha mãe, meu pai, minha avó, e um tanto de gente que já não está mais aqui como eles e outras tantas.
o choro veio com tanta intensidade que não sei se consegui realmente ver todas as fotos, pois os olhinhos ficam marejados só de lembrar.
minha mãe me deu minha primeira câmera analógica, e eu tinha esquecido disso. ela, que sempre estava atrás das câmeras, buscava guardar cada instante. sigo aqui, tentando não esquecer.
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