outras formas de contar o tempo
muitas vezes penso sobre a decisão do lugar de estar e a melhor forma de produzir/ser produtiva a partir de um lugar com o qual não estou familiarizada. nem sempre é fácil se adaptar, embora meu corpo entenda as mudanças e necessidades de escutas não visíveis de tanto movimento.
os acontecimentos dos locais de escuta estão em conceitos trazidos à tona por meio da escrita intransigente e, nesse momento, de leitura, por meio de uma voz gestual que forneceu mais uma coordenada para a noção de alma.
a história contada na travessia de um corpo-memória, de um gesto presente nas mãos, diz mais do que as próprias palavras faladas. é a ressonância de um lugar em que os elementos gestuais se fazem por sinestesia e facilita a linguagem, do lado de cá, desse corpo que tanto sabe e tanto recorda-reconstrói de memória.
Henri Focillon diz que os gestos multiplicam o saber: “a ação da mão define o oco do espaço e o pleno das coisas que o ocupam. superfície, volume, densidade e peso não são fenômenos ópticos. foi entre os dedos, no oco da palma das mãos, que o homem primeiro os conheceu. o espaço, ele o mede não com o olhar, mas com a mão e com o passo. o tato preenche a natureza de forças misteriosas. sem ele, a natureza seria semelhante às deliciosas paisagens da câmara escura, diáfanas, planas e quiméricas”.
portanto, acredito que olhar para o gesto da mão ansiosa desconhecida, e, contar o tempo, torna-se uma perseguição de outros saberes, me torno cúmplice, participo e observo formas de enfrentar o mundo que nos cerca e as relações que são tecidas para além do que é falado e é sentido aqui dentro.
escritos de novembro de 2022.
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